Cartas Mortas

A janela está aberta. 
Eu estou deitado escrevendo esse texto quando deveria estar indo trabalhar. 
Eu prometi a mim mesmo que não escreveria sobre ela mais uma vez. 
Tenho medo de soar como aquelas escritoras de blogs de 2010 que sentiam necessidade de compartilhar as suas frustrações com o mundo, mas me consolo sabendo que tudo que for escrito nessa folha de papel morrerá aqui.

Durante a maior parte do tempo sinto raiva e, em outros momentos eu só queria que as coisas fossem diferentes. Também tenho tanto medo. Medo de nunca mais conseguir sair desse apartamento vazio. Medo desses volumes da Clarice, do Caio e do Goethe que em alguns momentos me trazem angústia, em outros consolo.
Tenho medo de não ser compreendido e de nunca conseguir refazer a minha vida. 

Estamos no fim de Janeiro e posso ver o que provavelmente será a ultima chuva da estação daqui, de onde não saí desde ontem. É uma linda tempestade. Uma fúria necessária, natural. Então talvez seja isso, talvez eu esteja vivendo apenas uma tempestade natural que logo trará uma estação mais amena e mais parecida com um cartão postal. Gostaria que fosse assim. 
Eu ficaria feliz se a causadora da tempestade também não fosse quem trazia sempre a melhor estação.
Ela era meu verão. 

Ana Marques

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