Um pouco por estação

Eu sempre pensava na Alice da roda gigante. No ano seguinte eu a procurei naquela festa estúpida, e não encontrei. E no ano seguinte, e no seguinte. Eu descobri o nome dela aos dezesseis e a conheci aos dezoito. Houve várias garotas que despertaram o meu interesse naqueles anos, mas eu sempre pensava nela. A ruiva com nome de história da Disney. 

As outras garotas... acho que devo falar sobre elas. Algumas interessantes, outras completamente entediantes. A verdade é que agora eu não consigo pensar em quem eu era naquela época, e não consigo evocar o que eu sentia por aquelas meninas. Eu acho que naquele tempo eu vivia uma ilusão de que eu conhecia a felicidade. Mas não, eu não conhecia.

Chegou então meu primeiro ano na faculdade. No primeiro dia me senti meio deslocado no meio de tantas pessoas diferentes que, geralmente, optam por humanas. Eu completamente perdido vi uma garota que parecia estar completamente a vontade. Eu fiquei olhando sem acreditar. Alguns minutos depois ela começou a andar na minha direção, e eu incrédulo, esperei ela se aproximar e falar: "Algum problema? Você está me encarando e isso é um pouco assustador..." em tom de brincadeira, claro.

Fiquei um pouco ressentido. Ela não se lembrava de mim. Claro que depois de descrever cada detalhe de como nós havíamos nos conhecido ela acabou se lembrando. E sorriu, ela sorriu de uma forma que eu não tinha qualquer chance. Ela sorriu e eu já estava perdido.

Ela não era mais a mesma. Ainda ruiva, mas eu podia ver os anos que tinham se passado. Ela também parecia mais deslocada, mais isolada, a vontade com sua solidão. Por isso me surpreendeu a forma como ela continuou ao meu lado. Nós conversamos o tempo todo. E no dia seguinte, e no outro. Naquele mundo novo onde eu ainda era apenas mais um garoto lutando para entender como tudo funcionava, ela foi uma amiga. Um suporte. Aos poucos também me transformei aos olhos dela em um amigo, uma pessoa em quem ela poderia confiar. 

Aqueles primeiros meses nós rimos, nos divertimos, estudamos como nunca e nossas vidas foram se entrelaçando. A cada mês, a cada estação ela abria mais um pouco do seu coração. 

Ana Marques

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