Porque eu?

Eu olho para essa casa, mas aqui não é meu lar. As coisas estão todas fora do lugar. Aqui, na realidade, nem eu tenho um lugar.

O difícil é ouvir a porta batendo e atendar na esperança de ser você. Mas não é. É sempre aquele cara que a polícia já mandou ficar longe. Às vezes eu tenho medo que ele me mate. Às vezes eu tenho medo porque isso não faz diferença. Vida ou morte, não faz diferença. 

Eu tinha esperança de ser como nos contos. De você passar por aqui e me trazer a vida com um beijo. Mas eu não sei mais se quero a vida. Talvez eu devesse ir aonde o perseguidor quer me levar. O que ele sente é amor ou obsessão? Não faz diferença porque, eu também não sei se você é a minha paixão ou a minha fixação. 

Às vezes eu queria que você fosse a minha esperança. Você não é. Nunca foi.

Eu só queria estar em um lugar onde as paredes não parecessem tão estranhas. Onde eu me sentisse em casa. Onde eu tivesse um lugar. 

Quem sabe, depois da vida. 

Ana Marques

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