A Vida é Poema
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O blog ficou parado, mas continuei firme com o projeto. O que mais me surpreende com o 365 Days é a repercussão no meu dia a dia. Pessoas da minha cidade que nem conheço me perguntam o que é essa tal de hashtag. 

Junho foi um mês pobre de criatividade. Quanto menos leio, desenho, escrevo, menos criatividade eu tenho. Com a correria fotografar tem sido o único exercício constante de criatividade. Um exercício desafiante, como deve ser qualquer tarefa diária.

Destaque em julho para todas as coisas docinhas e deliciosas :D

Quem quiser acompanhar o projeto diariamente é só seguir no instagram. Mês que vem vou trazer uma novidade legal relacionada ao projeto ❤
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A mulher tinha a terra nos olhos. Os cabelos presos constantemente em um coque baixo, impediam o vento de levar os fios pretos pintados para todos os lugares. A pele negra ainda sem rugas, apesar da idade, apesar dos filhos que havia gerado e enterrado. 

Lembrava-se da terra vermelha da sua cidade. Ainda sentia o gosto da poeira, ouvia os gritos vindos da casa em frente. Saberia até o seu último dia as música aprendidas ao caminhar pelos pastos a cada madrugada de trabalho.

Ela estava longe de casa. Linda, poderosa, domou com brutalidade a própria vida. Chegou naquela terra que florescia no inverno sabendo apenas seu nome, o nome do seu lar e que um dia voltaria. Aprendeu a ler, as mãos calejadas se curaram. Se apaixonou, formou uma família. Foi dona da cidade, rainha com uma coroa de cachos.

Ela teve uma vida extraordinária, mas seu coração ainda era vermelho como sua terra. Por isso ela estava voltando, aquela estrada deserta a levaria para casa de papai. 

Ela já não se sentia velha, percebeu que não precisava mais respirar. As dores da vida e as paixões agora eram insignificantes. Ela pisou, descalça, e sentiu o chão a chamando para si, sentiu seu coração sendo atraído para seu lugar de direito, seu berço de nascença. 

Foi engolida por um manto vinho e descansou. Dormiu até a eternidade.
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Olá mundo! Como vai as coisas? A família? Eu vou bem, obrigada! Se eu não tenho vergonha na cara de ficar as férias inteiras sem postar nada? Sempre, mas hey, essa é a vida. A vida que está um caos e foi por isso em grande parte que o blog ficou esquecido, minha falta de organização é letal para projetos não obrigatórios. Mas a programação de agosto já está planejadinha e vou fazer o possível para por em prática.

Hoje vou falar do meu mais recente amor: a série Trono de Vidro. Descobri ano passado e me interessei por não saber o que pensar da capa. Esse livro de hoje é o 0.5, acontece antes do primeiro e é composto por cinco contos. Para quem ainda não leu recomento iniciar a leitura com esse volume, por isso vou falar dele primeiro.

A série conta a história de Celaena Sardothien, uma garota de dezessete anos que é uma assassina profissional. No mundo de Celaena todos pertencem a alguém, as pessoas estão escravizadas pelo poder ou pela falta dele e os livros se desenvolvem a partir da brutalidade e da coragem que os protagonistas precisam encontrar para sobreviver.

A série é comparada frequentemente com As Crônicas de Gelo e Fogo, mas diferente da história dos Starks e companhia, a jornada de Celaena me cativou. Aqui temos jogos de poder, mortes, manipulação e muitos, muitos assassinatos, mas J. Maas criou uma personagem fácil de se admirar.

Celaena é uma assassina, mas nesse volume podemos ver claramente o espírito que anos de violência e brutalidade não puderam quebrar. A beleza da personagem conquista seguidores fieis, e não me refiro apenas a beleza física, mas a coragem e a incapacidade da assassina em se resumir a apenas uma representação da morte. Celaena Sardothien é uma chama de vida em cada conto, mesmo sendo escrava de um mestre, de um rei, tem a liberdade como objetivo em cada escolha.

O mundo de Trono de Vidro é incrivelmente complexo e amplo e temos a chance de conhecer vários personagens interessantes, especialmente Sam, alguém que deixa repercussões em todos os livros seguintes da série. Acho difícil torcer para alguém como companheiro de Celaena, a cada volume a autora nos apresenta personagens reais, imperfeitos e impossíveis de não amar.

Nesse volume podemos ver que Celaena tem potencial para mudar o seu mundo.

Uma leitura complexa, divertida e viciante. Celaena Sardothien se tornou a minha protagonista favorita de todos os tempos.

Avaliação

Nota: 5/5
Capa: Linda, melhor da série
Descrição: Celaena Sardothien, espírito inquebrável 

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Acho que vou escrever sempre a partir de agora. É agradável ver o valor que você deposita nessas cartas. Obrigada por ler as minhas linhas.

Eu entendo porque você fica feliz por eu me abrir assim. Eu realmente sou uma pessoa de segredos, fechada para o que sinto. Você em todos esses anos me viu chorar um número bastante limitado de vezes. Eu não sei por que sou assim, é instintivo esconder o que realmente penso.

Por isso ainda me surpreendo ao lembrar aquela noite em que nos conhecemos. Nós ficamos falando da vida por horas. Eu te contei tudo. Contei como havia trabalhado anos para me tornar uma bailarina e em como isso se acabou num piscar de olhos. Lembro-me de te dizer que havia escolhido a faculdade de letras para agradar meus pais, de contar justo a você, que ainda era um estranho, que eu me sentia deslocada durante as aulas. Lembro-me de falar do meu desespero, das minhas incertezas para o futuro. Você sempre soube direitinho como arrancar de mim a verdade.

Acho que por isso eu te achava tão irritante no início. As semanas depois daquela noite foram cheias de conversas entre nós e eu realmente estava feliz por ter finalmente feito uma nova amizade. Mas me irritava profundamente a forma como você sempre descobria o que eu estava pensando.

Naquele ano, no meu aniversário, você me deu uma banana de presente. Foi uma das coisas mais engraçadas que você já fez, cantando bananas de pijama e fazendo o trocadilho clichê com o meu nome. Eu tentei tanto não rir, tentei tanto esconder de você o quanto eu tinha gostado daquele presente. Claro que você soube, você sempre sabe o que fazer para me agradar e, às vezes, isso me assusta.

Me assusta alguém me conhecer tão bem. Em alguns momentos eu me sinto impotente com esses sentimentos, mas você sempre me tranquiliza. Claro que eu também te conheço muito bem. Eu sei quando você esta triste só de te olhar. Sei quando você está feliz só de ouvir a sua voz. Isso também me assusta.

Me assusta o fato de que se nossas vidas se separarem eu perderei a pessoa a quem eu confiaria a minha vida. Claro que eu espero ter você como meu melhor amigo, como meu confidente, pelo resto da minha vida.

Nicolas fique. Apenas fique sempre ao meu lado. Eu prometo estar com você. Prometo não deixar o meu medo nos afastar novamente. Prometo nunca deixar ninguém te ferir, te magoar. Eu sei que você é resistente com promessas, sei que prefere ações a palavras. Mas Nicolas, as palavras são preciosas para mim, elas são sagradas, e espero que você entenda que essas cartas são a forma como eu encontrei de dizer o quanto você é essencial nos meus dias. Então eu prometo fazer de tudo para que você esteja em cada um deles.


Com amor, Hannah 
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Foi tão engraçado assistir sua reação ao ler a outra carta. Eu aposto que você nem se lembrava da sua bike de moleque, mas eu me lembro, me lembro de tudo. Eu tenho me sentido muito nostálgica esses dias. Acho que toda essa situação desperta isso de forma mais intensa. Tenho pensado muito no início da nossa amizade.

Você se lembra quando eu te levei para o meu LUGAR FAVORITO DO UNIVERSO? Você sempre passava por aquela rua e nunca havia reparado na pequena livraria com portas de vidro. Poucas pessoas reparam na verdade, por isso me surpreende que os donos ainda a mantenham aberta. Fico feliz de qualquer maneira, há anos aquele lugar com cheiro de história é o meu refúgio.

De qualquer maneira eu me lembro da sua expressão ao andar pelo labirinto literário. Eu apenas te observei enquanto você descobria parte do meu mundo. Eu olhei quando você passou a mão pelos seus cabelos escuros e, logo depois, limpou seus óculos adoráveis de estrutura azul marinho. Eu vi quando você olhou com seus olhos castanhos, claros demais, em minha direção pedindo uma explicação. “Como encontrou esse lugar?” você perguntou. Eu respondi que era um segredo. Acho que finalmente posso te contar...

Aquela livraria é um segredo que compartilho com minha mãe. Desde que me lembro, ela me conta histórias fantásticas. Em alguns dias ela me dizia que eu era uma princesa em outro universo, onde eu alimentava um amor proibido por um garoto destinado a dar a própria vida pela minha. Em outros dias ela dizia que em outro mundo eu era uma garota tímida e talentosa que independente de qualquer tristeza sempre fazia o que era certo. A minha mãe sempre acreditou que eu era uma heroína, nesse mundo e em qualquer outro que habita na imaginação.

Um dia eu comecei a questionar aquelas histórias. Eu as amava, mas, de fato, não me sentia como uma protagonista de um romance épico. Ela então me disse que tudo era possível, que as palavras eram poderosas e que eu apenas precisava ter fé, fé em mim mesma.

Então nós andamos pela cidade e encontramos a velha livraria. Ali passou então a ser o lugar onde eu me via em histórias fantásticas. Eu me tornei, através dos livros, princesa, fada, vilã. Ainda hoje minha mãe e eu compartilhamos essas histórias fantásticas, em segredo, como se aquelas portas de vidro fosse um portal para outros mundos.

E são, por isso eu te levei lá. Por isso fico imensamente feliz por você ter voltado sempre, porque agora você também faz parte desse segredo. Você também se tornou protagonista daquelas histórias. E sim, tudo isso é um pouco insano, mas você sabe, sempre soube que eu era o tipo de pessoa que busca na ficção um consolo para qualquer problema da realidade.

Com amor, Hannah.


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Estou te escrevendo uma carta. Sim, eu sei que poderia te ligar, ou enviar um email ou uma mensagem, mas estou te escrevendo uma carta. Provavelmente vou te entregar na festa de aniversário da Letícia. Você provavelmente vai ler assim que chegar em casa e enfim... Eu só queria escrever para você.

Você sabe que é o meu melhor amigo, certo? Você sabe que de todas as pessoas no mundo você é a única com quem consigo conversar horas e horas sem ficar entediada. Espero não te entediar com essa carta, mas eu estive pensando.

Hoje mais cedo pensei na forma como nos conhecemos. Eu sei que você não acredita em destino e esse tipo de coisa, eu também prefiro ter o amor como fé, você sabe disso. Mas devemos admitir que a forma as nossas vidas se cruzado naquele momento foi estranho. Uma sorte irônica e imprevisível.
Eu tinha acabado de desistir de ser bailarina, você havia sido demitido do seu primeiro emprego de forma injusta. Então estávamos ali, os dois a caminho da faculdade tentando não pensar nos problemas. Foi aí que eu quase te atropelei naquela sua bicicleta de moleque e nós começamos a maior discursão das nossas vidas.

Nós até hoje vivemos de brigas e reconciliações. Mas naquele dia ambos precisávamos colocar para fora toda raiva. Agora eu estou rindo só de lembrar da sua cara, da sua indignação. No fim nenhum de nós seguiu para a aula, fomos reclamar da vida e tomar sorvete e foi uma das melhores noites das quais eu me lembro.

Eu só queria te agradecer por essa amizade. Agradecer porque naquele dia tudo poderia ser diferente. Você poderia ter seguido adiante. Nós poderíamos nem ter nos falado. Se não fosse a nossa raiva pela vida, naquele momento, você, que mais me traz paz hoje em dia, não estaria ao meu lado. Então eu sou grata por nossas vidas terem se misturado. Eu sou grata por fazer parte dos seus dias.

Obrigada.


Com amor, Hannah.
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Eu já destilei ódio
distribuí amor
guardei rancor
abracei o horror.

Eu me enraiveci
com a falta de vírgula
com o excesso de rima
desperdiçada na sarjeta.

Desejei escrever,
mas minhas mãos,
simbolicamente,
atrofiaram-se
quando ouvi a música
que não desejava dançar.

Coloquei em evidencia
aquele melhor sorriso.
Escondi os meus infortúnios
e estampei as glórias
que não eram honrosas.

No fim eu apenas desejava
um punhado de rosas
uma companhia para consolar
um beijo para adorar,
mas eu estava só
em um universo de fantasmas
tristes.
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Tenho medo de minha vida se resumir a erros intermináveis.

Cinco, um número perfeito, inteiro, fazia sentido cinco erros. Mas peço licença a Dumas e me reúno a redundância poética de um imprevisto "indesejado". 

Não, o número seis foi desejado. Eu gritei o nome dele, corri por todos os cantos até dar de cara com esse enorme NÃO.

Vinte anos, tão jovem, a vida apresentando inúmeras possibilidades. Ele foi uma grande esperança, estúpida, mas desejada, esperada. 

três mil anos depois e ainda não consigo, talvez porque meu coração AINDA NÃO ENTENDE O QUE FOI ISSO *****, O QUE FOI?????

não consigo escrever, me recuso. me recuso a gastar meu shift novamente com esse lixo.

droga, a gente já tinha uma música *****



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Sou uma boa pessoa. Sempre fui, seguindo as regras e mandamentos. Sim senhor, sim senhora, perdão pelo incomodo. 

A regra principal é guardar a verdade. Sorria e ponha fim na angústia. Não se esqueça de olhar as pessoas nos olhos, mesmo que isso não signifique nada, mesmo que isso faça o seu pescoço pender por ouvir tantas bobagens. E faça isso, conte bobagens, tagarele sobre trivialidades, porque, no fim, ninguém se importa com o que você realmente precisa falar.

Mas hoje eu quero escrever a verdade. Me desnudar e escrever o que me impede de ter coragem. Talvez eu conte como uma fábula, e tudo no fim se torne mais uma ficção, mas quero deixar claro que não é essa a intenção. Eu não estou para contos hoje.

Eu me sinto tão cheia desse sentimento comum que é a incapacidade. Incapacidade que me limita, que me aprisiona. Eu me lembro de falar sobre assuntos importantes, tomar banhos de chuva, acreditar que eu nunca ficaria sozinha. Mas sempre existia esse sentimento que me limitava, sempre. 

Acho que ninguém está bem. Eu acredito que todos estamos tão irrevogavelmente doentes que não conseguimos nem ter esperanças de uma cura. Essa é a minha doença, minha limitação e eu não estou buscando por uma cura, só lamento, como todos os outros.

Por muito tempo eu temi ser como a maioria. Mas a vida inteira eu fui transparente, uma garota de vidro que sumia mesmo sem querer. Onde está o brilho, a beleza, a doçura? Talvez nos meus olhos, na minhas mãos, mas não no meu coração. Eu não acredito possuir nenhuma qualidade redentora.

Eu gostaria de despejar um pouco mais de sinceridade. Retornar a infância. Falar sobre como eu tenho confiança, mas não autoestima. Falar que na verdade eu queria me abandonar, como todo o resto. Mas já chega por hora. Eu só estou com muita raiva por ser tão triste por motivos tão triviais. Mas é isso que me distraí da apatia, da morte, da miséria, minha raiva me distraí. 
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Hoje estou com bastante raiva. Acho que sempre estou com raiva. E sim, talvez haja algo muito errado comigo, mas vamos seguir pelo senso comum e fingir que o erro está no nosso mundo miserável. 

Eu tenho muitos tabus. Eu cresci acreditando no silêncio. Mas agora sou uma jornalista que passa seu tempo brincado de escritora, estou cansada do silêncio. E exausta de escrever pensando na censura que alguém possa me impor, acho que é hora de parar de escrever pensando em quem nem vai ler... erro comum esse, escrever para quem não se importa. Então eu tenho alguns tabus, assuntos proibidos, coisas que não me pertencem, coisas sobre as quais eu prefiro que as pessoas imaginem nas entre linhas. 

Falar sobre garotos não é um dos meus tabus. Eu já me apaixonei e sou apenas humana, com todas as inconveniências que vem no pacote. Mas eu não vou escrever sobre minhas paixões, se alguma tivesse um resultado positivo talvez eu não estivesse com raiva agora. Apenas já escrevi tantos textos para imbecis que não devem nem entender o que é um poema que desisti desse tipo de romantismo unilateral. 

Esse texto é sobre como é difícil me apaixonar. Tenho certeza que não sou a única da espécie que passa por isso e, como em um grupo de apoio, penso que o certo seja compartilhar. 

O meu coração é fácil de ser conquistado, difícil é achar alguém interessado. Sim eu sei que sou introspectiva, pouco agradável e de beleza simplória. Tenho consciência de cada defeito que molda grande parte do meu carácter. E é isso que me enfurece, a perspectiva de precisar mudar quem sou para que as coisas tenham chance de dar certo com alguém. 

Estou cansada, com sono, solitária. E com muita raiva. Porque ninguém pode me amar por mim? Por esse texto que demostra o meu jeito de lidar com o desespero: com indiferença e uma forte oposição a qualquer tipo de atitude que me tire do sério.

Sim, estou farta da minha própria companhia, mas se tudo que todo mundo diz é verdade é bom me acostumar. Odeio me acostumar com as coisas. Odeio pensar que qualquer um que leia esse texto possa concluir que ele é uma espécie de lamento. Não é, esse texto é um resumo sem floreios da minha vida, da realidade que existe diariamente no meu coração.
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Eu tento não pensar. Eu tento não me enfurecer. Mas hoje eu não consigo. Eu tenho vivido. Tenho aprendido a ter esperança. Era isso que eu gostaria que ela fizesse se fosse ela aqui, e não eu. Então eu estou seguindo em frente, mesmo que doa fisicamente, eu estou. Talvez em um outro dia eu possa dizer que espero encontrar outra garota, mas não hoje. Não hoje.

Há dois anos, tudo teve um fim há dois anos. Eu não entendo como coisas ruins assim acontecem à pessoas tão boas. Naquele ano eu estive em uma igreja duas vezes. Para o nosso casamento. Para o funeral da minha Alice.

Quando ela caminhou até o altar eu não acreditei ser verdade. Eu pensei que relembrar aquele momento sempre seria para mim como olhar um sonho. Ela estava linda, chorando e sorrindo. Sete meses depois eu estava chorando, chorando não descreve, mas foi isso, eu chorei e chorei enquanto a via naquele caixão, fria, sem a cor da vida. Nós nos casamos no verão. Ela morreu no inverno.

Mas aquele foi o desfecho de algo que começou antes de nós. Começou antes que eu pudesse chamá-la de minha. Minha amiga, minha paixão, minha namorada, minha noiva, minha esposa, meu amor.

Eu lembro como ela me contou. Em um minuto nós estávamos rindo de um filme que tínhamos acabado de assistir no cinema. No outro ela estava pálida. A pele branca contrastando com o fogo que eram os cabelos. Eu confuso perguntei o que havia de errado. Ela me respondeu que havia visto um fantasma. Eu ri pensando que era uma piada, mas não, era um fantasma do passado para assombrar o futuro que tínhamos sonhado juntos. 

Alice um ano depois de dar uma volta comigo na roda gigante, conheceu alguém. Na verdade alguém a conheceu. Ela não tinha interesse. Ela me contou que disse para esse cara que ainda estava apaixonada por um garoto que havia conhecido em uma festa estúpida. Então não, ela não estava interessada em nenhuma espécie de relacionamento. 

No início as coisas aparentavam estar resolvidas, esclarecidas. Mas aquele cara voltou. E voltou. A minha Alice sofreu oito anos. As pessoas sempre minimizam esse tipo de obsessão. Eles dizem que uma mulher de roupa curta está provocando, pedindo por uma agressão. Eles dizem que elas gostam de ser humilhadas e rebaixadas, colocadas no mesmo patamar que um objeto. Eles dizem que é besteira, exagero. Mas a minha esposa está morta, e isso é tudo que sei.

Eu lembro daquele dia tão claramente. Eu fiz o café da manhã e ela lavou a louça. Nós conversamos mais uma vez sobre adotar uma criança, nos tornarmos pais. Era como estar dentro de um sonho, planejando outro sonho. Eu fui trabalhar, ela também.

As 10:02 daquela manhã fria e clara o meu telefone tocou. Era uma ligação do celular dela, mas não era a Ali, era alguém me dizendo que ela havia sido atacada, dizendo que eu precisava ir ao hospital.

O criminoso está na cadeia. Ele confessou. Eu me enfureço porque nós fomos até a polícia tantas vezes. Depois daquele dia no cinema nós fizemos de tudo. Mas eu não pude salvá-la. Aquele monstro disse que estava no nosso casamento. Que passou aqueles meses nos seguindo, observando a nossa rotina, planejando.

Ela não chegou ao hospital viva. Eu não acreditei. Mas era verdade. É verdade. Ela não fez mais nenhum aniversário. Ela não pode ser mãe. Ela nunca foi madrinha ao meu lado no casamento dos nossos amigos. Ela nunca vai saber que a filhinha deles tem o nome dela. Ela não viu o que aconteceu nesse tempo, como as letras e a voz dela se tornaram um consolo para pessoas que, como eu, sofrem pelo mundo. Músicas que tocam os corações. Que sempre tocou o meu coração, e que hoje me traz consolo.

Ainda dói. Eu tenho tido ajuda. Alguns dias são bons. Em outros, como esse, parece que tudo acabou de acontecer. Mas eu tenho lutado para que coisas assim parem de acontecer. Para que mulheres como ela possam ter paz e liberdade. Isso não vai mudar o que já aconteceu, mas pode garantir um futuro melhor para a pequena Alice que nasceu há apenas onze meses.

Eu ainda a amo. Sempre vou amar. Mas eu sou uma pessoa diferente agora. Tento esquecer a raiva e manter em mente a imensa gratidão pelo tempo que tivemos, pela vida que compartilhamos, e pelos sonhos que nós conseguimos realizar.

Eu não vou mais escrever sobre isso. Vou escrever sobre como ela era perfeita e errada, de uma maneira completamente apaixonante. Se um dia eu tiver outra família eu quero que eles saibam, eu quero que eles conheçam quem esteve comigo enquanto eu me tornava o homem que sou hoje.

Eu tenho buscado ter um pouco de fé. Sim, tudo teve um fim brusco e injusto, mas foi no meio de uma confusão, que até hoje não entendo, que eu conheci a minha Alice (como a do livro) e acredito que isso foi um milagre. O nosso amor foi um milagre. E não importa como a minha vida será daqui para frente, ela vai ser sempre a minha melhor amiga. Aquela em quem sempre vou pensar quando tiver alguma coisa para contar.

Eu te amo minha amiga, minha amante, minha confidente, minha conselheira, minha cúmplice. Eu te amo minha Alice. Vou sempre, sempre me lembrar de você naquelas tardes de verão, em que você cantava sobre o sol, em que tudo parecia transbordar eternidade. Vamos nos amar para sempre nesses palavras, nas suas canções, nas minhas lembranças.

Eu vou ser feliz, eu prometo. (Por você)
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Suavemente segurei aquela pequena mão. Lentamente, depois do sim, selamos aquele compromisso para a vida. Era uma aliança com flores gravadas, com a palavra amor escrita por dentro. A minha está agora em uma corrente, no meu pescoço. A dela continua naquela mão, pálida, pequena. 

Ela sempre detestou os grandes gestos. Tudo entre nós sempre foi simples, sincero. Éramos a Alice e eu, debaixo de uma árvore com flores amarelas, só nós dois naquela tarde, traçando um novo caminho. 

Casamento, família, contas a pagar, filhos, pirraças, sujeira para limpar, tudo parecia bom. Era como se finalmente eu estivesse no lugar certo. Com ela eu sentia que a corrida havia chegado ao fim, que eu havia sido vencedor. Campeão na vida compartilhada.

Ela sorriu tanto e depois, começamos a rir histericamente. Eu tive medo de ser um pedido precipitado, mas quando eu perguntei, tive a certeza de que era o momento certo, de que ela era a mulher certa. 

Ela se casou com um vestido rodado, ia até os joelhos (eu sempre amei aqueles joelhos). Ela entrou na igreja como se fosse uma fada, com um buquê repleto daquelas flores amarelas. 

Naquele dia plantamos uma muda daquela árvore no nosso quintal, eu posso vê-la de onde estou agora. As flores estão caindo pelo chão. Quase consigo vê-la fazendo arranjos para presentear os vizinhos. Ela sempre foi esse tipo de pessoa, que presenteia estranhos com flores, que faz gentilezas sem esperar nada em troca. 

Como não amá-la?
Todos amavam. 
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Olá!

Eu sou a Ana. Por aqui você vai encontrar começos de livros, desenhos quase bons e confissões de uma jovem adulta em uma jornada para alcançar algo além do comum. Fique a vontade.
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