Resoluções (Reboot)

Todo ano faço uma lista de pedidos. Uma lista de sonhos. Desejos que seres mágicos andando em trenós nunca conseguiriam me conceder. Todo ano também escrevo uma carta de amor.

Esse ano eu não quero escrever palavras vazias e prometer que as coisas serão diferentes. As coisas no geral não mudam mesmo que eu deseje que sim.

Mas eu tenho mudado, lenta e gradativamente. Durante esses dias que mal começam e já terminam eu tenho sentido o peso do tempo. Esse ano que acabou foi de aprendizado, aprendi que as vezes é melhor fazer logo a algazarra do que esperar dezenove anos para dizer alguma coisa.

Eu já estabeleci metas, estipulei prazos e sei que provavelmente nessa mesma hora no ano que vem vou estar fazendo exatamente a mesma coisa. Mas quero ter esperança, essa "escapista e burra", de que as coisas sejam diferentes, "embora saiba que há perdas realmente irreparáveis". A verdade é que esse ano eu mais ganhei do que perdi, e por meu próprio mérito e isso é algo satisfatório (em parte).

Então minha lista está pronta, quero crescer mais, ganhar mais e perder com classe quando for preciso. O que nos leva a outra tarefa, a última designação do ano a ultima incumbência a cada virada: a carta.

Eu não quero escrever mais uma carta longa e "desesperada". Durante muito tempo eu esperei viver um amor épico e literário. Esperei encontrar alguém que tivesse escrito para mim também antes de me conhecer, como eu sempre fiz. Eu aprendi esse ano que é estupidez amar uma ilusão, uma esperança, mas como não escrever? Como não esperar, pedir, desejar? 

Não há nada que eu possa escrever para o meu futuro "amor" que já não esteja nas cartas passadas. Eu já disse todas as belas palavras. Acho que por isso hoje eu só quero dizer que já não me importo. Vou estudar, trabalhar, divagar e citar como sempre faço e acima de tudo nesse próximo ano vou viver. Talvez eu me apaixone e ache isso maravilhosamente aterrorizante ou talvez não. Essa é a beleza certo, as possibilidades. E eu quero cada possibilidade que esse próximo ano oferecer. Quero ser feliz. Quero perdoar cada mágoa que guardei nos meus dezenove anos. Quero que minha moto que foi roubada volte para casa (inteira e de tanque cheio), quero que a cachorrinha que vai ser minha (e que acabou de nascer) não faça muita sujeira, quero criar e ter liberdade para detestar cada criação. E acima de tudo quero um reboot porque não suporto a mesmice dos dias, dos anos e da vida.

(Feliz quase ano novo meu amor, mesmo que o parágrafo seja desnecessário ao texto e a autora, você é um dos protagonistas, está garantido na nova versão da minha vida).

Ana Marques

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