Agora, as três da aurora, apresento-lhes um fato: não sei fazer nada que não seja escrever.

Eu estou a uma semana em casa. 
Hoje saí para ver o sol. Estava nublado.

Eu nunca gostei desse mês. Vejo tanta hipocrisia, todos falando sobre sacrifícios e em amor, mas onde ficam esses valores, esses ideais, quando o ano nos arrasta para a rotina? Só em dezembro precisamos ser bons?

Eu amo minha família. Ela me ama, e isso não é questionável. Eu só sempre acabo olhando ao redor durante essas festas e fico pensando será que eu realmente os conheço? 
Será que eles realmente me conhecem? 

Minha mãe me ensinou que o amor é uma escolha. Ela me ensinou que ele não é um sentimento mas sim uma aliança, uma promessa. A promessa de perdoar, de cuidar, de estar lá (mesmo quando não estiver). Então eu acredito que é possível amar uma pessoa sem realmente conhecê-la. Porque, vamos ser sinceros, se realmente conhecêssemos os verdadeiros pensamentos de quem nos rodeia nós suportaríamos? 
Eu suportaria a verdade? 
Eu não sei.

Só sei que odeio essas festas. 
Elas me fazem pensar em quanto tempo eu ainda tenho para conhecer o melhor em quem eu amo. Me fazem pensar que provavelmente vou passar a vida inteira sem que ninguém realmente me conheça e, isso é minha responsabilidade. É minha culpa. Eu sempre afasto as pessoas e as amo de longe, sem deixar que ninguém saiba o que realmente está na minha cabeça, no meu coração. Eu me fecho pro mundo para me abrir nesses textos. Isso não faz de mim uma escritora, faz de mim uma covarde. Uma covarde que tem medo de dormir. Uma covarde que não sabe como se abrir. Uma covarde que poderia mudar as coisas mas que escolhe apenas escrever sobre elas.

Eu fiquei duas horas hoje sentada em frente a minha casa esperando alguém que não chegou. Acho que o pior em dezembro é isso, a esperança que ele trás. A esperança de um novo recomeço. Durante anos eu esperei que as coisas mudassem, mas elas continuam extremamente iguais. Estou cansada de ter fé em algo que nunca chega. De esperar alguém que claramente não chegou.

Ainda não consigo ver o céu. Essas chuvas não deveriam ser passageiras? Estupidez procurar sentido na natureza. Estupidez.

Ana Marques

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