Quase verão

Já faz tanto tempo desde a ultima vez que escrevi que nem me lembro de qual era a tristeza do momento. O que sei é que mais uma vez sou a única acordada nessa casa silenciosa. O que sei é que o verão está quase chegando e que a chuva que caiu agorinha só é mais um sinal disso. O que sei é que precisava escrever, nem sei se sobre a tristeza, ou a felicidade, ou esse paradoxo que vive dentro de mim. Sim, estou triste, mas também estou feliz porque sei que isso vai passar assim que o dia chegar, e se minha alegria não vier com o sol eu sei que o verão vai chegar e vou ter motivos pra sorrir todo fim de tarde quando a chuva cair.
E eu estou quase chorando porque perdi as palavras por tanto tempo, elas não eram mais minhas e eu peguei muitos parágrafos emprestados para não lembrar-me disso. Cada linha que compõe esse meu texto é uma prova concreta de que eu sobrevivi. Eu resisti aos impulsos mais egoístas e cheguei aqui. Cheguei a essa madrugada solitária, mas que cheira a chuva, então eu penso nas gotas caindo e não me lembro de todas as não promessas que não foram cumpridas.
Mas eu quero te fazer uma não promessa esse momento, quero te prometer meu caro leitor que quando esse texto terminar eu vou estar sorrindo. Vou sorrir porque sei que vai haver mais madrugadas solitárias e que numa dessas vou mexer nos arquivos antigos e vou me deparar com esse texto, e quando finalmente eu terminar de lê-lo mais uma vez vou lembrar- me que tudo passa como a chuva, as estações, mas que há algo que não passa que eu chamo de meu consolo.
O meu consolo é lembrar que o amor é indestrutível, eterno e isso me faz sorrir. Posso não encontrar o amor por esse mundo mas acho que ele é grande demais mesmo pra caber aqui. E fico feliz que algo tão bonito não pertença a essa terra medonha, porque eu mesma não me sinto pertencer.
Há algo muito maior e se chama amor. Acho que o sinto quando ouço as gotas de chuva. Acho que é por isso que eu ainda procuro motivos pra sorrir mesmo que o mundo esteja caindo. Acho que o amor que sinto e o que sentem por mim é o que ainda me motiva a buscar as palavras certas. Espero um dia encontra-las.

Ana Marques

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