Crônica | De longe todo mundo é bonito


Eu nunca enxerguei direito. Nasci com o olho esquerdo sendo inútil. De uns anos para cá o direito também resolveu pedir misericórdia. Acho que ele se cansou de trabalhar sozinho. Então, agora eu ando com esse óculos pesado de lentes desiguais. Às vezes, estou tão cansada do mundo que tiro ele. Coloco o óculos na bolsa, não para que vejam o que há por trás da lente, mas para que eu não precise ver o mundo nitidamente, com todas as suas pequenas coisinhas que me deixa enfurecida. 

Mas, me pergunto se a gente não precisa de óculos para o coração. Durante muitos momentos da minha vida estive envolvida em situações em que se amava de forma míope. Vendo de longe você não enxerga direito, mas já imagina que a outra pessoa é linda. Quando está perto percebe-se que na verdade não era bem aquilo que você havia imaginado...

Não estou falando de aspectos físicos. Sim, sei que essas situações acontecem, da mesma forma que às vezes a gente entra no chuveiro e percebe que ainda está com o óculos. Ou na hora de ler um livro na cama e não encontrar uma posição confortável. Eu estou falando de como idealizamos as pessoas e amamos a imagem que fazemos delas, até que, estando mais perto, nos decepcionamos com que elas realmente são. 

De longe, no início, tudo é lindo. Abrimos nossos corações e nossas vidas muitas vezes tendo por base um número limitado de conversas e a aparência exterior. Mas, se nossos corações usassem óculos não seria diferente? Será que a gente não enxergaria melhor o que realmente faz a diferença em um relacionamento?

De perto é necessário ser bonito por dentro. É necessário ter respeito e caráter. É necessário querer estar mais perto. É necessário ver, e enxergar,  nitidamente. 

Ana Marques

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