Conto | O amor vicia


Ele tinha cheiro de perfume e tabaco. Eu sentava para almoçar na praça de alimentação barulhenta. Ele sempre chegava um pouco depois e ocupava a mesa ao lado. Eu sempre imaginava o que ele cursava. Parecia de humanas, mas eu tinha a sensação que ele era aquele tipo de gênio em exatas. Às vezes, eu nem precisava olhar para saber que ele estava ali. O cheiro denunciava.

É interessante como a paixão distorce as coisas. Eu odeio cigarro. Acho tão triste. Mas, passei amar aquele cheiro que se misturava a qualquer que seja o perfume que estava sempre ao redor dele.

Um dia havia tanta gente na praça de alimentação que ele pediu para se sentar na minha mesa. Fazia muito tempo que eu não dividia a refeição com alguém, Ele se sentou e se apresentou: "Meu nome é Paco", eu disse "Sou a Clarice". 

Ele era engraçado! Sempre tive um fraco por caras tristes e solitários. Paco era feliz, divertido, sem dramas, mesmo com todas as roupas pretas e as bandas de rock melancólicas. 

É estranho como o amor nos torna mais toleráveis. Mais da paz, good vibes. Me tornou tolerante até para aguentar as festas de fim de semana no meu prédio lotado de estudantes desinteressantes. Era estranho, eu já ia para o apartamento apenas para dormir. A faculdade ocupava todo o tempo. E Paco estava sempre lá, me fazendo rir de coisas idiotas.

O nosso primeiro beijo nem é a minha lembrança mais feliz. Eu ainda me encho de alegria quando lembro que ele me contou que ia parar de fumar: "Eu sou idiota, mas nem tanto para continuar com isso". 

Às vezes, ainda sinto falta daquele cheiro, mais pelo que ele representa: o início de uma paixão. Mas, as lembranças não se comparam com a alegria de ter com quem dividir o almoço (e a vida).

Ana Marques

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