Quando canto pra ele

Tudo pode ruir em uma confusão alucinógena. 
Desde que me reste essa música tudo vai ficar bem. 
Você já teve isso? Uma música só sua? Uma que fala dos segredos da sua alma? Uma que o seu corpo dança naturalmente no ritmo conhecido da vida?
Talvez sim. Ou não. 
Às vezes eu canto Candura, Monte Castelo ou Maurício. E às vezes eu danço Inestimável, Rio Torto ou Fuga. 
E às vezes eu escolho uma música para dançar com ele. 
Mas essas que eu escolho para o moço dos cabelos cacheados são sempre sobre saudade. Aí mudo a faixa. Passo para alguma alta, que me faz questionar se eu escutaria o fim do mundo caso ele visse essa noite. 

E assim, no não pensar, eu mudo as faixas e os tempos verbais. Para não pensar eu componho e tento viver da minha arte. Eu tento ser doce, doce, doce, na amargura da saudade. 

Às vezes peço perdão pelos clichês que não consigo evitar. Mas depois eu me torno um clichê materializado na frente de mais um diário que insisto em divulgar. 

No fim eu tenho uma vontade vergonhosa de buscar um dueto mais alegre. Seria bom viver em uma comédia, enfim. Será que faz sentido? Usar metáforas para confessar um amor inacabado? Escrever, cantar e dançar canções sobre uma paixão falida? Pedir "a esmola de um tiquinho de atenção" para encontrar uma solução em uma equação redundante sobre sentimentos? 

Talvez. Ou não.

Ana Marques

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