A poeira, o sol, o caos

Pelo feixe de luz a poeira podia ser observada em uma dança preguiçosa. A cama bagunçada era convidativa. Pelo chão notava-se todo tipo de coisas: livros, roupas, bolsas, lixo. O caos externo era uma reprodução da confusão interna.

Saiu para a sacada, buscando algo, mas o sol estava forte, cegava qualquer indício de pista que poderia encontrar pela rua, ou nos outros apartamentos, ou no céu, ou Deus sabe mais aonde poderia encontrar.

Mas o que buscava? Um amor? Não, muito doloroso. Uma oportunidade? Não, muito passivo. Uma esperança? Não, muito otimista.

Ela buscava um propósito. No amor, na guerra, na ignorância, na loucura. Ela precisava de uma resposta para o-porque-de-estarmos-todos-aqui. Não precisava de uma grande réplica. Ela estava aqui para ser feliz? Triste? Para ser amada ou amar? Para comer? Compor músicas? Escrever?

Mas ela ainda precisava de um porquê. O porquê que seria um caminho, um ponto de certeza em meio a confusão. Assim ela teria uma razão para limpar a poeira, jogar fora o lixo e achar lugar para a bagunça. Teria um motivo para não voltar a dormir e finalmente arrumar a cama.

Mas essas divagações não faziam muito sentido. O sol estava forte demais. E era tão mais fácil apenas fechar a cortina e voltar a dormir. Era mais fácil não fazer nada do que se lamentar sobre seu vazio existencial. 

Ana Marques

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