A garota feita de cacos

Eu não tirei meus olhos de você.

Eu vi quando você olhou a lua numa espece de prece silenciosa. 
Eu vi quando você sorriu de repente, como se estivesse se lembrando de uma boa piada. 
Eu vi quando você começou a murmurar uma música sem sentido. 
Quando mais uma vez citou algum livro. 
Eu vi quando você, tropegante, começou a dançar. 

Qual era sua prece? Qual era a piada? Que música você cantava? Qual o livro que você citava? Que vida é essa que eu vejo você levar, na qual eu não posso te chamar para dançar?

Eu te olhei. Eu te vi. Eu compus uma música com nome de amor para você. 

As vezes eu acho que o amor nos mutila, porque eu já abri mão de tantas coisas por você. Me machuquei tentando curar as suas feridas menina. Tirei pedaços do meu coração para remendar o seu. Fiquei incompleto, quebrado. Um coração faltando pedaços por culpa de um amor do passado.

Mas você também nunca foi completa. Você sempre foi como um espelho, cheio de cacos espalhados, impossível de se colar. Eu via reflexos da garota linda e feliz que um dia você tinha sido, mas quando eu te olhava eu via sinais de alguém que já estava além de qualquer afeto, além do que o amor pode salvar.

Eu me lembro das coisas pequenas. Lembro de te chamar de flor. De te abraçar quando vinha o vento. Eu lembro quando finalmente eu te vi dançar. Mas você não me quis como o seu par. Agora eu te amo, com esse meu coração de garoto que apenas tenta parar de te olhar.

De longe te olhar. 
Não consigo parar. 

Ana Marques

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