Querida Ana,

Este foi o ano que reli aquela carta do passado. Quanta piadinha! Não tem graça rir da desgraça (e com antecedência).

Aqui, cinco anos no futuro, o mundo anda muito diferente. E eu estou completamente diferente. Sinceramente, às vezes, tenho vontade de apagar tudo que você escreveu. Mas te apagar é me apagar, então fica aí para a posteridade cada carta melosa para paixãozinha que nunca deu em nada.

Isso me irrita em você, como a gente já banalizou as cartas de amor. Fala sério, Ana, eu sei que seus sentimentos sempre foram genuínos, mas não podia ter escrito essas 78 (?) cartas e, ao invés de começar com querido amor, começar com um... Querido desperdício de tempo do momento. Certo, perdão, não quero soar amargurada. É só um pouco triste olhar para o passado e ver o quanto de frase de efeito boa que a gente já desperdiçou por aí.

E já que estou sendo sincera, você precisa entender quem você realmente é. Ana, aceite que a gente é chorona sim. Somos tímidas, sempre fomos e sempre odiamos isso. E você é linda, mesmo que a acne não tenha sumida depois da puberdade, como era a promessa.

Ana, eu sei que às vezes parece impossível, mas você consegue. Lembre-se de respirar. E, por favor, para de brigar com tanta ferocidade pelos seus ideais, isso sim é um desperdício de energia. Ninguém vai poder roubar seus valores, não se preocupe com isso.

E eu sei, eu sei que a gente tem a tendência de enxergar mal. A gente não vê a beleza do presente. Esquecemos que não estamos só. Lembre-se, Ana, você têm um monte de gente que briga por você com ferocidade. E não, isso nunca vai deixar de ser uma surpresa.

Acho que já falei demais. Eu não me lembro quem éramos ao escrever para o futuro. Só posso te garantir agora, escrevendo para o passado, somos capazes de ainda sonhar. Talvez até os 30 a gente realize algo de fato? Resta esperar. 

Ana Marques

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