Levanta-te e anda

Já escrevi tanta coisa, mas tudo parece tão irrelevante, trivial. Não sei se as pessoas percebem o quanto nossa rotina é superficial e vazia. Nós somos pessoas egoístas de corações impuros que finge se importar. Fingimos ao nos comovermos com tragédias à milhas de distância. Mas, quem se importa com a tragédia ao lado? Qual foi mesmo a última vez que perguntei ao meu vizinho se ele precisava de algo? Acho que nunca. 

Mas existe dentro de mim esse querer. Um chamado maior do que a minha maldade que me enche de esperança. Uma voz maior que meu coração imperfeito que me motiva a tentar. Eu tento me importar. Por isso sigo as regras, me esforço para deixar meu temperamento controlado. Mas, minha vida passa como se eu estivesse sonolenta, tentando acertar os passos, mas sendo impedida pelo peso nos olhos. 

É necessária muita coragem para acordar. Porque eu preciso te contar algo: o mundo é mau. Estou chorando muito por saber disso. Meu coração dói profundamente. Nós vivemos em um lugar onde uma mãe abandona seus filhos como se eles fossem coisas. Você já se aproximou de uma cachorrinha depois de ela ter dado a luz? Ela defende seus filhotes, então como pode uma mãe, de uma espécie supostamente superior, abandonar seu próprio sangue? Abandonar sua herança?

Existem muitas crianças vivendo sem amor. Incontáveis pequeninos que nunca terão uma chance. Meninos e meninas que não são vistos, que estão aí, do seu lado e permanecem invisíveis. 

Eu quero ser a pessoa que vê. Eu quero fazer algo. Talvez isso comece com minhas lágrimas, minhas preces, mas quero ir além disso. Quero ser mãe, tia e irmã para quem nunca teve uma família. Isso não porque eu sou uma boa pessoas, mas porque eu preciso ser. Porque as crianças esquecidas precisam de alguém que seja. 

Tudo começa com acreditar. E eu acredito que os órfãs desse mundo que mendigam de fome podem ter um futuro diferente. Eu acredito que casos perdidos não existem. Eu tenho fé de que se nos levantarmos, se abrirmos nossos olhos, se tivermos coragem para enxergar a podridão do mundo, nós podemos fazer algo para que ele não gere tanta morte, mas passe a exalar vida. Eu acredito.

Ana Marques

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