Conto | Cartas de amor

Todos os dias eu esperava o carteiro. Ele sempre trazia noticias de papai na cidade grande. Papai, era um homem de muitas palavras, escrevia todos os dias. Era como se ele estivesse ali com a gente, mesmo estando tão longe. 

Eu tomava o sol da tarde descalça no meu vestido de menina, mas aos poucos o vestido não servia mais. Nos meus pés haviam sapatilhas apertadas, de segunda mão, e todo o mundo se transformava ao meu redor. 

O velho carteiro, Júlio, se aposentou. Um rapaz bonito tomou seu lugar: Isaías. Nome de profeta, vinha sempre sorrindo, dizendo boa tarde, trazendo minhas boas notícias. Eu sempre desviava o olhar, sorrindo e corando até a orelha. 

Aos poucos nos conhecemos. Ele queria ser doutor advogado, mas naquela época não era qualquer um que podia pagar. Eu disse um dia bem baixinho: quero ser escritora! Ele disse que leria qualquer coisa que eu escrevesse.

Então escrevi cartas. De início eu falava sobre o tempo, mas no final só o que eu escrevia era sobre quanto o tempo demorava para passar até chegar a hora da correspondência. Ele passou a aceitar quando minha mãe oferecia um café.

Um dia resolvi ler a carta de papai junto de Isaías. Nela ele dizia que ia voltar para casa. Havia se aposentado! Que alegria! Fiquei tão feliz que olhei para o carteiro e o beijei bem ali, com a luz da tarde indo embora aos pouquinhos. 

Papai, aprovou quando ele me pediu em casamento. Isaías, quase morreu de alegria quando consegui meu primeiro emprego de jornalista. Eu escrevi cartas sempre, e meu Isaías as lia nos intervalos entre cada entrega. 

Era uma vida boa. Era maravilhoso quando ele chegava em casa com aquele sorriso, dizendo boa tarde, e eu sem corar ou desviar o olhar respondia: estava com saudade! 

Ana Marques

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