As noites de verão são as melhores

A cidade se torna um lugar diferente quando os bairros dormem. Todos os dias chego de viagem depois da meia noite e observo a luz entrar pela janela do ônibus e acolho agradecida o cenário familiar. Tudo é tão diferente durante o dia, um caos que desconheço, do qual eu me desconecto e tento ignorar. Mas, a noite a cidade é amiga, é tranquila, os silêncios das ruas me consolam depois de um dia de ruídos estridentes.

As pessoas deveriam fazer isso: caminhar na madrugada, conhecer a cidade enquanto ela dorme. É quando dormirmos que ficamos mais vulneráveis, certo?! Eu gostaria de gritar: "VENHAM CONHECER ESSA CIDADE VULNERÁVEL..."

Vejam bem como ela se deita e demora para pegar no sono. Observe como ela faz planos antes de sonhar. Você está vendo como ela se enche de luz para evitar aquele medo de escuro. Você pode notar como ela se cobre para evitar a brisa noturna, que é amiga mas esfria o pé (e ninguém dorme de pé frio). Pobre brisa, ela vive trocando a noite pelo dia, logo ela que a gente tenta nos dias de mais calor acordar.

E esse escuro que se faz de durão mas que, bem lá no fundo, ama um segredo sussurrado. Ah, se ele dissesse tudo que já ouviu... a cidade acordaria, talvez uma guerra se iniciaria, pelos segredos que a gente esquece que conta, mas que o escuro sempre teima em guardar. Deve ser por isso que ele dá tanto medo, porque ele sabe demais...

Eu olho para noite silenciosa e espero o dia chegar me perguntando... quem consola essa noite. Ela é maior que a cidade, que a brisa, que o escuro, maior que as pessoas. Às vezes, a noite engole as pessoas. Mas, quem esquenta o pé dessa noite no frio? Quem sussurra no ouvido dessa minha amiga que é tão mal compreendida, tão esquecida, mas que faz a cada dia as estrelas e a lua brilhar?


Ana Marques

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