Manchetes

Sou o tipo de pessoa que supervaloriza o conhecimento. Saber das coisas me empodera. Mas, saber das coisas que eu posso ver, tocar, influenciar, racionalizar. É bom saber que a terra é redonda. É bom ser velha conhecida dos números primos. É bom olhar para o céu e identificar um planeta porque a luz dele chega aqui diferente da das estrelas.

Mas eu também sou o tipo de pessoa que entende que a ignorância pode ser uma benção. Às vezes, se alienar é o único caminho para manter a saúde. O problema é que não consigo mais fugir das manchetes. Os jornais saíram do horário nobre, da banca, do link no facebook e vieram parar no ar que eu respiro, nos alimentos que compro, no amanhã que almejo.

Eu sei que é egoísta não querer saber. Mas no fim, mesmo sabendo do cenário completo, me sinto totalmente impotente. Eu nunca acreditei que posicionamento de internet faria alguma diferença, sempre preguei que precisamos ser no dia a dia os valores que defendemos. Mas esse tipo de atitude parece tão insignificante.

E é triste olhar ao redor e me sentir sozinha. Foi só eu que olhei os livros de história e notei que a Igreja se corrompe ao abraçar o Estado? Foi só eu que li como o Estado, guiado pelos religiosos, mataram meus irmãos em cruzes, apedrejamentos, panteões, fogueiras, campos de concentração? Eu não quero sangue em minhas mãos. Eu não quero cometer os erros abomináveis do passado.

Preciso confessar que ando pecando com a mentira. Fico falando que o silêncio é uma benção, me calo para evitar discussões. Mas a palavra é o poder que detemos. E, por mais que eu respeite as pessoas, não consigo conciliar os valores cristãos com o caminho que tomamos.

Eu escrevo há anos e isso é um bom exercício para manter o que importa no coração. Daqui a algum tempo, quero voltar aqui e saber que eu pelo menos escrevi. Que eu pelo menos fui fiel a minha verdadeira fé.

Ana Marques

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