Desempregada

Acho que confiro meu email mais de cinquenta vezes ao dia. É como se no fundo eu esperasse que chegasse uma daquelas mensagens "você ganhou um milhão", e que fosse verdade. Como se ao atualizar vezes o bastante finalmente aparecesse uma boa nova, uma carta de amor extraviada, uma proposta revolucionária.

Agora eu sou oficialmente uma desempregada em busca do sonho. É um ciclo paradoxal de angústia, porque eu tenho tanto medo daquilo que eu quero. Tanto medo de que o que eu desejo do fundo do coração se realize. Eu sou uma covarde, mas estou apostando todas as minhas fichas mesmo assim. Eu caminho com temor, mas caminho.

E agora a boa nova é que eu tenho um tempo para terminar o novo livro. Mas, é claro que tem que vir aquele bloqueio criativo. Meu lado autodestrutivo é tão eficiente que eu quase me orgulho. Mas, é escrevendo que eu resolvo o problema de não conseguir escrever. Então estou aqui. Mais uma vez deixando escapar pelas letras o aperto no coração para conseguir respirar novamente.

Naquela caixa de entrada eu tenho tantas provas de que devia desistir de escrever. Eu coleciono nãos. Eu deixo naquela pasta escondida as evidências de que não é o bastante, falta talento, falta paixão genuína. Quem leria algo escrito por alguém que é só metade? Os emails se juntam para responder "ninguém".

Mas, hoje, mesmo incapaz de escrever qualquer diálogo entre o casal da vez, eu não ligo para as negativas. Não me importo com a incerteza do mercado de trabalho. Eu sinceramente só quero escrever. Independente de ser o bastante ou não.

E tem sempre o consolo de saber que aquele meu sonho que me faz tremer as pernas é maior do que as palavras.

Ana Marques

Nenhum comentário:

Postar um comentário