Adeus aos Patos

Aqui é muito silencioso. Eu só ouço meus protestos escandalosos contra a solidão, mas quando me aquieto não há ninguém ao redor. Já são seis anos em um lugar que não me pertence. Talvez no fim eu descubra que ninguém nunca realmente chega a pertencer, mas essa cidade não tem mais o que me oferecer.

Mas, ela me deu muito. De lágrimas à galhadas. De amigos eternos a desafetos indiferentes. De sins a nãos. Eu cresci tanto, não literalmente, mas sinto que agora meu coração é maior.

Saí de um quartinho sufocante para este apartamento que tem o meu cheiro, as minhas mãos, meus olhos em cada pedacinho. Fui eu que carreguei minha cama escada acima. Fui eu que coloquei o chuveiro no lugar. Eu assinei os papéis, fiz ligações furiosas, andei de um lado para outro até fazer dar certo. E deu.

Por mais que as angústias tenham sido diárias, a ansiedade, a perca de peso, de cabelo, de senso de realidade, eu consegui sobreviver a isso. Eu me tornei uma adulta completa e, mesmo não sendo um sonho colorido, sei que agora eu posso fazer o que eu bem entender com segurança. Acho que aqui eu aprendi a viver por conta própria. De certa forma, eu deixei de ser uma menina para me tornar uma mulher que, mesmo tremendo de medo, ainda vai em frente com a cara e a coragem.

Querida cidade, dona das minhas conquistas e dos meus fracassos, nunca vou te esquecer. Guarde bem aqueles que eu amo. Não sinta tanta falta, eu ainda volto de visita.

Ana Marques

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