Encontre o amor da sua vida (ou algo melhor)

Texto escrito com F. V. Reis. Nossas conversas são geralmente assim, por isso talvez este texto seja uma grande piada interna. O importante é que nós dois ainda estamos rindo, mesmo não tendo mais vinte e um.

— Sabe o que nós parecemos?
— O quê?
— Duas vadias bêbadas.
Dois nerds conversavam na sacada do apartamento que dividiam.
— Como assim?
— Parece que estamos bêbados, falando sobre ex-namorados enquanto tomamos sorvete na sacada do prédio.
— Exceto pelo fato de que não temos sorvete. E não estamos bêbados.
— E não temos ex-namorados.
Os dois se alternavam escrevendo em um caderno como quem divide uma bebida.
O que dos jovens de vinte e um anos têm de relevante a dizer? Eles nutrem a ilusão de que as palavras escritas de forma apressada no caderno farão diferença na vida de alguém?
Aparentemente sim! Eles dão muita importante a um punhado de palavras.
— Os vizinhos devem nos achar patéticos. Olha bem! Ou estão chegando de um encontro ou estão saindo para mais uma conquista amorosa.
— Estão todos bêbados. Acho que, assim como nós, não estão fazendo grande coisa com a vida que têm. E não corta meu barato. Nunca fui a vadia na vida. Deixe-me ser a vadia pelo menos uma vez. — os dois riem. — Além disso, nem devem saber quem somos.
— É... acho que ninguém sabe. — os dois riem novamente.
— Isso é triste.
— Fazer o quê?! "A vida é uma meretriz que nos fode a todos".
— Ah, não. A vida tem seu lado doce.
— Ok, agridoce.
— Pensa bem: o Sr. Padaria! É sério. Um dia vão erguer estátuas dele pela cidade, e vai ser que nem na Coreia do Norte: as pessoas vão ter de venerá-las. — e, novamente, os nerds caem na gargalhada.
— Ter um crush suga minha juventude, estou dizendo. Estamos ficando velhos demais para isso.
— Mas, não está ficando mais fácil. Até meu cachorro tem uma namorada, e eu na solidão.
— Mas, esse é o ponto, certo?! A gente está tocando a nossa vida. Estamos alimentados, fizemos faxina. Os outros podem até pensar que estamos empurrando a vida com a barriga, mas nós estamos bem!
— Realmente, não faz muito sentindo ficar com qualquer um por causa da carência. Se eu já esperei vinte e um anos, posso esperar um pouco mais para encontrar o amor da minha vida.
— Ou algo melhor. — os dois nerds caem na gargalhada enquanto mais uma música questionável começa a tocar em algum lugar da vizinhança.

Ana Marques

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