Inverno em dezembro

Aparentemente eu ando com medo até de escrever. E, Senhor! Já é dezembro. E compartilhando aqui um segredo: não fica mais fácil. Acho que no fim do dia minhas palavras podem soar ingratas, e às vezes sou mesmo. Mas, eu só ando cansada.

Acaba que ninguém se importa. Nem eu me importo. E se caso os meus ossos ficarem mais aparentes, aquele meu lado autodestrutivo vai ficar feliz, ao menos. Mas, essas necessidades não parecem mais me alcançar. E sinceramente não consigo encontrar aquela parte de mim que um dia já se importou. 

Eu só quero permanecer nesse estado de torpor por mais algum tempo. Bem naquele método: afasto as pessoas antes que elas tenham chance de partir. Em alguns momentos distribuo alguns sorrisos ao observar a felicidade alheia, para logo depois ficar insatisfeita com a solidão. Nesse ciclo, eu vou para a insensibilidade antes que eu me torne mais humana no sentido pejorativo da palavra. Não quero ser humana se isso se associar a autopiedade e a inveja. E na maior parte do tempo não sou.

Ainda sou capaz de sentir algumas coisas mais profundas. O amor fraternal não dá para ser apagado completamente. Não no meu caso. Mas os laços que a vida forja, são feitos de cetim. Você puxa um fio e ele logo desfia perdendo o brilho e a forma. E não dá para se agarrar a isso. Não consigo me agarrar a nada.

Aqueles sonhos ficam cada dia mais indistintos. A minha tábua de salvação vai sendo levada pelas ondas e os dias se tornam cada vez mais vazios. A vida com propósito antes planejada vai se transformando em uma sucessão de rotinas feitas por alguém que não entende de dor nas costas.

Em alguns momentos eu quero ser mais do que uma música triste escrita por alguém que já morreu. Em alguns momentos eu desejo ser mais do que minhas inseguranças e medos paralisantes. Mas, quando o mal externo colide com o que vive dentro de mim, fico no fogo cruzado tentando entender como ainda continuo de pé.

Mas, eu continuo. Minto dizendo que se um dia alguém me ler vai fazer diferença, mas as pessoas já leem. No fim do texto isso não muda em nada a fraqueza que não consigo afastar física e mentalmente. E a cada palavra que não verbalizo, o mundo continua sem mudanças. As coisas nunca vão mudar. 

Ana Marques

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