Sem silêncios

Amigo, a depressão vai acabar matando toda a nossa geração? Já ouvi por aí que é o mal do século. Depois de ver tanta gente indo embora de repente (mas sem ser de repente) entendo a extensão desta afirmação. 

É difícil, eu sei. Como a gente consegue tratar isso? Como que se salva alguém que está à deriva, sem acreditar que possa existir um novo porto seguro? A gente ama? Diz que vai ficar tudo bem?

Às vezes não fica tudo bem. E às vezes é difícil amar alguém que já não sente mais nada. Não sabemos realmente lidar com esse tipo de doença, de dor. 

Eu não sei o quanto devo revelar sobre o meu próprio coração. Já senti ele pesado demais, liguei para uma linha de apoio. Tinham cem pessoas na espera. Eu pensei que uma daqueles outras almas perdidas devia estar sofrendo mais do que eu, então abri mão do meu lugar na fila. Estava difícil, mas não era impossível para mim. E talvez estivesse insuportável para aqueles outros cem. 

Mas, pense bem, é a minoria que chega a pedir ajuda. Não é uma questão de coragem. Acho que está mais relacionado com nosso histórico, nossa personalidade. Existem pessoas que se desesperam gritando por ajuda. Outras sentem o terror em profundo silêncio.

A gente não pode aceitar o silêncio. Por isso eu escrevo, porque não consigo falar. Tirar de dentro os pensamentos ruins faz toda diferença na minha rotina. Eu nunca pensei na última consequência, na decisão sem volta, mas eu entendo quem chega a isso. Empatia talvez seja a palavra que a gente mais precisa.

Amigo, não tenha medo. É uma doença, mas não contagiosa. Você pode se aproximar. Você pode perguntar o que está realmente acontecendo. Você pode ouvir. Entenda o que essa alma precisa: consolo, compreensão, paciência, atenção, ajuda profissional. Note os detalhes e não minimize algo que pode levar alguém que você ama para longe, sem voltas. 

Ana Marques

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