Batons e Baladas

Hoje eu juro que vou dançar até o amanhecer. Com o meu batom vinho ninguém irá me beijar, ou me ver sorrir. Eu manterei essa expressão de quem sabe mais do que deveria. Esse olhar de decifra-me ou devoro-te. Mas, hoje, ninguém irá me decifrar. Só vou dançar como se eu soubesse realmente me divertir.

O som exageradamente alto que bate em meus ouvidos, e que posso sentir no meu peito, será minha única companhia. Já estou descalça e outra pessoas está usando meus saltos de vadia. O que é ridículo, porque sapatos não possuem relação com a libertinagem de ninguém. 

Eu sei que não devia estar aqui. Mas só eu escolho onde posso ou não estar. 

Que música é essa? De alguém que já morreu. Só os mortos conseguem cantar sobre esperança nos últimos dias. Mas, tudo bem, enquanto houver música meus pés terão algo a fazer. E eles vão de lá para cá, meio insensatamente. Preciso cuidar para que eles não sejam pisoteados. 

Pisoteados como foi meu coração, bem da última vez que estive aqui. Era tão bom não oscilar sozinha. Mas a dança da vitória depois da vingança é mais convidativa. E esse é o castigo: a minha capacidade de me divertir com meu batom vinho. 

Por que, afinal, eu não preciso de beijos ou passos para me conduzir. Eu tenho meus pés machucados pelos sapatos de nem-tão-vadia. E essa é minha ultima dança. Me despeço junto do sol. Eu só precisava deixar claro que sei dançar sozinha. Que fique claro que só preciso de músicas de outros dias para me sentir viva.

Ana Marques

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