Pequenas e valiosas alegrias

Estou lutando para viver. Eu sei que há tragédias maiores no mundo. Eu sei que é uma dádiva ter as memórias como um consolo. Eu sou grato porque eu conheci a Alice, verdadeiramente. Eu  abracei e dividi uma vida com ela por sete anos. Mas tudo teve um fim. A vida é isso, uma sucessão de momentos extraordinários que chegam ao fim. 

Eu nem sempre fui assim. Eu ria tanto, e cultivava uma coleção de momentos valiosos de felicidade. Eu estou tentando voltar a isso. Eu tenho encontrado meus amigos. Ainda é estranho, eles não sabem como lidar com o peso que está sempre sobre os meus ombros. 

Tenho trabalhado também. Paguei as contas atrasadas. Hoje eu fui tomar sol no parque do bairro. Eu começo a ver as coisas com um certo distanciamento. Ainda não parece real, e eu não quero seguir em frente, mas preciso. 

Começo a reparar no mundo a minha volta. Eu estive por tanto tempo cego e desacreditado que esqueci que há beleza lá fora. Eu ainda amo algumas coisas, como meu trabalho, as tardes que meus amigos e eu dedicamos a falar sobre livros feitos para as massas, que são ótimos para descansar a cabeça. Eu ainda amo tomar sorvete de chocolate. Eu ainda amo ouvir música. Tenho ouvido as composições que ela deixou. Algumas tristes, outras sarcásticas, todas cheias da voz, da mente e do coração da Ali que não está mais aqui. 

Eu sei que eu não sou o primeiro cara a passar por isso. Pessoas vivem situações como essa todos os dias. Isso não significa que é o jeito natural ou certo. Ou que faça sentido as melhores coisas da vida se acabarem. Mas eu tenho essas pequenas, valiosas e doces lembranças que me enchem de alegria.

Sou grato pelos pequenos momentos. 

Ana Marques

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