Talvez eu deixe uma IA escrever o próximo

Talvez a arte venda sua alma e no fim restem só algoritmos para criações sobre demanda. Depois de tantos anos aprendendo, investindo e aprimorando, o curso de ação mais racional é abandonar tudo e encontrar uma nova linha profissional.

Mas a gente cria porque vive, porque fomos criados, porque silenciando nossa arte, não resistimos a aridez dos dias, a dolorosa realidade.

O dinheiro precisa vir de outra parte. A fonte de sobrevivência às vezes mata até nossa vontade, mas o viver vem sempre da arte. A gente vive pelas palavras quebradas, encaixadas de madrugada, pelas linhas traçadas em intervalos corridos. Nossa vida se faz quando os sonhos são materializados em páginas amareladas.

A resistência final é ainda sonhar. Sonhar que podemos nos unir e nos cuidar. Sonhar que um dia a pessoa certa vai compartilhar e então todo mundo vai comprar. Sonhar que o trabalho vai ser valorizado e não apagado como se não custasse lágrimas e suor.

Sonhar, criar, resistir e insistir. A gente vai ser vencido, mas nunca dá para desistir. 

Ana Marques

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