O cronômetro roubou os meus melhores anos

Viver com um cronômetro sobre os ombros cria mecanismos de defesa contra pensamentos destrutivos. Se há uma contagem regressiva para acabar, significa que toda angústia se findará. 

Meu dinheiro acabou e ainda é dia 30. É difícil viver só pelas contas. Preciso viver pela esperança. Preciso viver pelos sonhos que não tenho ousadia de gritar e perseguir até que magicamente se materializem na conta de satisfações que encorajam continuar, mesmo que pelas contas. 

Li um conto tem dois anos e escrevi nas margens sobre amigos repatriados por aqueles que buscavam o extermínio dos que já estavam aqui. Não consigo lembrar como a gente sobreviveu, às vezes não sei se acredito que a gente vai muito mais longe.

Essa ebulição catastrófica queima a largada dos planos para os 80 anos. Foi assim que percebi que me roubaram os 25, 26 e 27. Choveu lá fora e o cronômetro pifou, voltou com números faltando.

A gente não pode recuperar o tempo. Por isso, agora encaro o ponteiro girando, para não perder o próximo colapso que vai fazer ele engolir o quanto a gente pensou que sempre teria, que nunca perderia. 

Ana Marques

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