Amigo

 Ah, amigo, as noites de desespero, não senti falta delas. Não busquei retornar a essa consciência da minha impotência diante da vida. Cada decisão que me guia que não é minha, perco mais um pouquinho da minha esperança no amanhã.

Eu sei, faz tempo que eu não escrevo, queria ser mais do que uma portadora de más notícias. Eu já quis muita coisa, tenho buscado voltar a esse estado de desejar. Como que a gente faz isso? Como se apega a sonhos que não tem data ou garantia de realizar?

Tenho alguns pesos no coração. Meus pais estão grisalhos, amar os próximos tem sido um ato de paciência desgastante. Às vezes a gente descobre fatos sobre as pessoas que sempre estiveram lá, mas que matam um pouquinho em sua materialização.

Posso falar a verdade? Antes eu tinha tanto, tanto medo da mediocridade. Hoje eu só quero abraçar ela e esperar o tempo me levar. Eu só quero ir, amigo.

E tenho ido, aos poucos, de repente, como sempre, surpreendentemente. Eu não faço ideia de como vim parar aqui. Não faço ideia de como sair. Talvez eu seja só uma piada mal contada. Talvez eu seja só mais uma memória a ser esquecida dos tempos de desespero. Eu ainda tenho medo, amigo. 

Ana Marques

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