Respira

Este foi o ano que não existiu. Ou talvez eu não tenha existido. Fato é que eu não escrevi. Até tentei voltar àquele projeto de livro agora a pouco, mas fiquei até com dificuldade de respirar.

Parece que tudo me traz uma dificuldade na respiração, um peso nos pulmões. Deve ser efeito colateral de um ano tão sem esperança.

Ainda quero escrever, eu acho que sim. Eu sei que tenho uma dívida com meus personagens. Uma bem grande de eliminar noções problemáticas que passaram despercebidas pela Ana quase adulta. A eu de agora necessita de uma trama digna para esses que foram por tanto tempo uma companhia real/imaginativa.

Mas eu não sei se consigo. Não sei se consigo mais, se vale o esforço, se é a coisa certa, se escrever de fato salva vidas, como um dia achei que havia salvado a minha, ou se ninguém se salva e a gente só continua porque não dá para voltar atrás.

Existe ainda fé nessa trama, o único motivo de persistência, o alívio singular para a angústia. Fé de que um dia, mesmo que tarde, a respiração virá sem dificuldade. Quem sabe ano que vem.

Ana Marques

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