To be continue

 


Era o décimo mês depois do fim do mundo. Eu já tinha aprendido a respirar na nova atmosfera pesada. Jurava que não havia nada mais que pudesse me ferir. Quando quem você ama se alia ao inimigo, você aprende uma coisa ou duas sobre continuar.

Aquela mania de escrever rimando permanecia. Nunca soube explicar porque eu ainda insistia em acreditar em poesia. Sendo a sina de todo escritor a tragédia, não existe lógica em ainda criar dos escombros.

Das lágrimas de um mundo em luto, da revolta da impotência, eu vertia arte. Arte pobre, arte medíocre, arte que já nascia morta, sem ninguém que compartilhasse daquela angústia da criação.

E meus monstros pessoais já não me assustavam. Quando se vive no pior cenário, o que é uma insegurança ou um temor individual? Abracei os medos internos e parei de lutar diariamente.

Inventei uma rotina escapista. Trabalhei 16 horas, li 1200 páginas, aprendi um novo idioma, so, that way, I could say in more than one language how painful it is.

Assim eu poderia escrever que depois do fim do mundo, presa ao pesadelo, eu ainda continuo. Eu continuo.



Ana Marques

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