Linhas quebradas

Às vezes, faz muito barulho do meu lado de dentro, por isso eu preciso de um tempo.

Faz uma vida que eu escrevo, mas ainda não encontrei o tempo verbal perfeito. São as linhas quebradas de minhas composições que confundem o compasso de cada enredo.

Eu ainda não me arrependo das cartas de amor que eu escrevi. Elas só deixaram de fazer sentido, uma vez que continuam sendo cartas, mas agora sem amor.

Este ano descobri que, além de uma mente volátil, eu tenho um coração enganoso. Impressões que pareciam esculpidas em rochedos eternos, se transformaram em vagas lembranças, como a neblina em estradas no inverno.

Linhas e mais linhas, traçando as memórias que me trouxeram até que eu pudesse questionar. O que eu sei fazer além de perguntas?

Eu sei contar. Eu posso dizer que logo em breve tudo vai mudar. Eu posso garantir que minhas palavras ficarão datadas em alguns instantes. Que cada nova linha de pensamento, que cada sentimento efêmero, só terá uma chance de sobrevivência literária. Hoje, morri 239 vezes. Que minhas palavras sejam um memorial para que a eu do futuro lembre-se de que ainda há tempo de renascer e reescrever.


Ana Marques

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