Eu (não) escolhi esperar


Estou cansada e com sono, mas antes de deitar e ficar horas no celular, adiando o momento de dormir de fato, eu quero escrever um pouco. Não, quero ter essa ilusão de que estou escrevendo. Ilusão porque um texto no blog não contribuí para a finalização do livro que está parado no bloqueio criativo. Mas, enfim, ilusões e procrastinações são nosso tema favorito por aqui.

E falando sobre ilusões, durante muito tempo vivi dentro dessa noção fantasiosa de que eu precisava esperar pelas coisas. Um exemplo disso é aquela pergunta irritante, "o que você vai fazer da vida". O ponto é que viver já é fazer algo, entende? O levantar da cama todos os dias já é uma vitória e um plano de ação admirável. Tantas vezes foi difícil levantar, mas a gente continuou. E não no futuro, em um plano hipotético, nos levantamos no presente, escolhemos agir para que em algum ponto o futuro existisse.

E escolhi viver. Eu escolhi viver minha vida com tranquilidade. Uma decisão meio ingênua, e eu gosto dessa palavra, ela me descreve em muitos ângulos. A tranquilidade, a paz, é tão facilmente perturbada. Sobreviver este ano com algum nível de paz parece uma tarefa hercúlea. Mas, por incrível que pareça, eu tenho obtido certo êxito em manter a calma.

Eu vejo tanta gente falando por aí que escolheu esperar. Eu mesma já soltei essa frase. Esperar o próximo ano, o novo emprego, a faculdade, o dinheiro. Esperar pelo momento certo. Esperar pelo amor certo. Eu já esperei tanto por tantas coisas. Eu não quero mais esperar. Se este ano me ensinou algo, foi que o futuro é um abismo de incertezas, no qual nos atiramos, sem ideia do que virá.

Eu escolhi parar de esperar o que vem depois e viver o que já está aqui agora. Escolhi fazer o melhor no trabalho de hoje. Escolhi administrar o dinheiro que tenho em mãos. Escolhi escrever um texto insignificante, sem me preocupar com a coerência e coesão tão importantes na conclusão de um romance. Escolhi amar sem esperar que no futuro haja reciprocidade. Eu não vou esperar alguém aparecer para me notar, vou apenas amar quem eu noto com carinho, com a alegria que esse tipo de sentimento desperta sem quase nada buscar.

A vida é agora. Nesta madrugada solitária a vida é. E eu sou grata, pois amanhã eu sei que vou conseguir me levantar. 
 

Ana Marques

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