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Gustavo, o ano está no fim e eu já devia estar dormindo. Essa inquietude que me mantém com os olhos abertos é uma companhia tão constante que já desisti de me livrar dela.

Enfim, meu coração não tem mais aquela leveza. Às vezes, paro para lembrar como as coisas tinham um outro significado... é desconcertante. O tempo é mestre, mas um mestre que sempre faz o aluno se sentir burro e impotente.

E tenho esse desespero em mim. Essa vontante de pertencer, de querer permanecer. Mas, Gustavo, eu sempre me vejo fora de foco, longe do grupo, a multidão a água e eu o óleo. Incapaz de me misturar e de criar laços.

Às vezes, me pergunto se alguém que não me viu nascer vai ser capaz de me amar. Sei lá, o sangue te une a mim, mas não acho que você estaria na minha vida se não fosse por isso. E minha ambição tem sido essa, resolver o paradoxo.

Porque, existe essa atração envolvente na solidão de meus pensamentos. Eu gosto de pensar, mas ao mesmo tempo, me vejo desejando ter alguém para ouvi-los. Para me dizer se estou perto demais do limiar entre a loucura e a sanidade.

Existe ainda alguém são? 

Ana Marques

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