Ela já conhecia o rosto dele, mas aquela foi a primeira vez
que ouviu sua voz. Ele abriu o caminho e um sorriso. Ela sentiu algo novo, algo
diferente. No início foi por causa do riso na voz.
Depois ela chegou silenciosamente com o vento. A voz mais
uma vez a surpreendeu, mas naquele momento o que a arrebatou foram os olhos.
Olhos que prestavam atenção. E naquele instante era tudo sobre o olhar.
Com o tempo vieram outros detalhes: o cabelo, as mãos, o
jeito de caminhar. Mas, ela compreendeu que aquele sentimento extraordinário,
estranho, aterrorizante não era passageiro.
A verdade é que paixões nunca parecem passageiras quando se
sente. Elas parecem ondas eternas de euforia, animação, alegria, desespero.
Elas parecem agentes do caos prontas para nos lançar em demonstrações de
vulnerabilidade desnecessárias.
Mas, aquela garota pensou que aquela paixão não seria tão
fácil de deixar para lá. Não era como na época da escola, no estilo não gosto
dele porque ele falou mal da minha banda favorita, não. Era uma paixão naquela
fase da vida na qual tudo já devia estar determinado e estável.
Ela sentia tanto medo dessas perspectivas. E se ele também
tivesse sentindo algo novo naquele primeiro momento? E se ele também tivesse se
apaixonado quando ela chegou com o vento? E se não? O não parecia a opção mais
segura, mas por que então doía tanto?
Sempre dividida entre alguém que nunca estava lá, por quem
só mantinha um tenaz apego e ele que estava lá, com todos os sentimentos dela,
mas sem indícios ou pistas do coração dele.
No fim, ela concluía que iria passar. Vai passar. Todos
passam, mas a solidão fica. Há algo de bom na solidão, sempre há algo de bom.
Por isso ela escrevia um texto, falava sobre si em terceira pessoa. As
palavras, afinal, têm o poder de tornar realidade fantasias. Quem sabe também
não teria a habilidade de transformar um sentimento real em um conto, uma
ilusão quase esquecida? Talvez.