Conjectura

Querido leitor, é tão bom narrar em terceira pessoa. Isso significa que eu daqui só observo as angústias e sofrimentos do casal da vez. Contar estórias é minha alegria. Sentir por meio delas é meu jeito seguro de me apaixonar sem permitir que meu coração se quebre no processo.

Hoje eu só queria contar sobre o garoto alto que vive na rua dos pomares. Contar sobre a garota do último andar. Eles começaram uma dança interminável há tempos e é interessante observar o desenrolar.

Como aquela música que ouvi a tanto tempo, ele é como um satélite que se orienta em volta dela. Ela sorri e ele não consegue conter aquela alegria que transborda em uma resposta incontida. Ele a procura com o olhar a cada passo. Quando encontra, em alguns momentos muda o ritmo. Ela sempre vacila ao notar, mas se mantém de pé, presa por aquele olhar.

O ponto é que eles estão sempre em sintonia. Bailam com maestria noite e dia. O triste, meu amado leitor, é que eles não são de fato satélites no espaço. Uma rota de colisão entre esses dois seria bem vinda. Mas, eles são do tipo que se inspiram demais nos astros. Conjecturam sem parar que, mesmo dançando em perfeita sincronia, é melhor manter a distância já estabelecida.

Eles não sabem que para humanos às vezes é bom se encontrar.

Ana Marques

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