A paixão não é inflexível


Eu não tenho espaço para sentimentos irracionais no momento. O gostar de alguém não pode ser baseado em um grande nada, como geralmente acontece nas paixões. Olhando para o passado, eu nunca tive motivos para gostar tanto de alguém. E isso é improdutivo.

E por mais que eu goste e aprecie certo cara em aspectos abstratos, precisa ser mais do que isso. Precisa ser. Os sentimentos necessitam sair do campo da ilusão e de fato fazerem algum sentindo para serem alimentados.

Amanhã eu vou precisar acordar as 6h. Hoje só vou poder dormir depois das 2h. Quatro horas de sono e uma frustração que não dá para ser medida. Porque as minhas paixões sempre me deixaram sozinha, mesmo que eu só tenha desejado dividir o fardo com alguém.

Não adianta ranger os dentes, franzir o cenho, espernear histericamente, a jornada é solitária, mesmo quando há companhia. E essa paixão, esses descompassos do coração, pode muito bem se tornar em uma fonte de inspiração para um novo livro, música, obra-de-arte-que-vai-doer-no-coração-da-posteridade.

Os sentimentos são flexíveis. Nem tudo que acreditamos que irá perdurar, permanece até o final. Nem tudo que nasce no coração se revela algo além de ilusão. Salomão escreveu que o amor é tão forte quanto a morte e a paixão tão inflexível quanto a sepultura. Não querendo contrariar o rei da sabedoria, mas a paixão* é tão inflexível quanto o nosso coração enganoso, que hoje jura amor até a morte e amanhã já superou (com a graça de Deus).

*Algumas traduções falam que o ciúme é tão inflexível quanto a sepultura, mas isso é assunto para outro dia.

Ana Marques

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