Das palavras furacão

Ela era a garota tempestade em uma terra árida. Sufocava minuto a minuto sem encontrar um alívio. Planejava fugas diárias, mas sempre terminava no mesmo cubículo. 

Com expectativas mortas, as plantas secavam na sacada. Pode alguém que está definhando alimentar algo? Ela não acreditava. 

E ao voltar ao apartamento vazio, ela sempre encarava as paredes vazias se perguntando o que raios era tudo aquilo?! O que ela ainda estava fazendo naquela vida oca, seca e solitária?

Olhar para o próximo era reconfortante, afinal todos pareciam ter sede. Por isso ela fechava os olhos, dormia, para depois viver mais um dia de rotina.

Era bom relembrar os sonhos coloridos do passado. Ela quis ser professora, bailarina, mãe. Ela quis ser. Quis ter. Mas, só o que sobrou foram as louças para lavar na pia.

E estava tudo bem, porque quando tudo parecia insuportável, quando ela sentia que a desidratação a levaria à cova, ela sentava e escrevia, afinal sonhar no papel era um prazer secreto. Ninguém poderia excluir de sua sociedade o que ela de fato queria.

No fundo, fundo, fundo ela se agarrava às palavras. Se fundia às sentenças de forma que não existia maneira de separá-la de suas ilusões escapistas. Ela bebia do papel, do alfabeto, das folhas oxidadas de livros baratos. Tempestuosamente sobrevivia. Se derramava tentando ser mais do que uma autora esquecida.

"Eu vou escrever para viver.
Da palavra eu vim, para a palavra vou.
Eu me calo, mas em silêncio ainda grito:
EU SOU AQUELE LIVRO
QUE TE DEU UM MOTIVO
PARA VIVER OUTRO DIA."

Ana Marques

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