O céu de Brasília também é bonito. Tem tantos lugares que eu ainda não vi. Seria maravilhoso se pudesse ir além com os livros.

Tenho pedido por clareza. Nada de fama ou dinheiro, mas clareza. Se é para eu continuar escrevendo, tem que ter quem leia. Se não, é vazio de sentido. 

Daqui a pouco o ano vai acabar e tanto mudou. O céu está totalmente diferente. Acho que foram as dores de janeiro que me impulsionaram para ver outros ares. Página a página espero que minha palavras façam sentido, que elas levem quem ler a olhar o céu e lembrar que ele ainda é bonito. 

Essas são as únicas linhas que vou te permitir existir na minha ficção. A experiência de existir é tão diversa. Por mais que eu queira te apagar da minha, espero que fique bem.

São duas linhas suficientes? Creio que sim, a partir daqui elas são só minhas como sempre. Andei com tantas coisas nas últimas semanas, como se a estagnação dos últimos cinco anos tivesse dado trégua. Voltei a sonhar com fantasias fantásticas. Talvez eu consiga sonhar depois de hoje.

É uma vida boa. Existir não é pesado quando se tem um sonho para manter acordado. 

Talvez eu tenha escolhido trabalhar três turnos para não pensar nas coisas que não realizei.

Mas as coisas que realizei até que dão alguma esperança de que quando algo dá errado, outra coisa dá certo.

Os dias estão se amontoando e meu ano cheio está quase esvaziado de descanso. 

Mesmo sem saber como, ainda sonho e sonho. Quando acordo, sobrevivo com isso. E na realidade até vejo alguns vestígios.

Crescer é um processo lento, doloroso e às vezes nada recompensador. As alegrias diminuem e as responsabilidades aumentam. As saudades vão ficando mais perto, os sonhos mais longe. 

Recomeçar é parte natural desse processo, parece que desfaço e refaço minha vida a cada cinco anos. Mas o recomeço desta vez parece mais consistente, como se fosse o início do fim de todas as coisas. Não de uma maneira ruim, mas como um plano que vai acabar mais distante.

Nem acredito que voltei a sonhar. Hoje foi um dia difícil de manter isso, de não desistir outra vez. É complicado não se comparar. Meus braços continuam vazios, quem deu partida junto comigo já cruzou a linha de chegada. Mas preciso sonhar, mesmo que não tenha ninguém para lutar comigo, para lutar por mim, preciso continuar.

Com fé, com Ele, com contentamento. Não comodismo, mas aquele sentimento de estar contente mesmo nos dias tristes. E hoje foi um dia triste, mas eu me contento de saber que amanhã pode ser melhor. E vai ser. 

Recomeçar dá uma canseira, mas já faz tempo que quero ser feliz em outro lugar.

Minha grande ambição é a estabilidade financeira, mas a minha geração nasceu tarde demais para não deixar isso passar.

Por mais que pelas ruas eu encontre surpresas, existe um contentamento em se contentar.

Vai ficar tudo bem, eventualmente, sei que vai ficar. 

Não gosto de esquecer as coisas que só são importantes para mim. São tantas, e muitas vezes as que me levam a seguir. 

É muito importante manter em mente aquelas coisas que nos dão rumo. A vida é tão confusa, o peso das minhas decisões às vezes parecem me esmagar. Mas então respiro fundo, escrevo mais uma linha e conservo a certeza de que cheguei onde tinha que chegar.

Para onde vou daqui? Só Deus sabe. Que Ele guie o caminho por onde eu tropeçar. Que eu caminhe e caminhe até chegar. 

Não sei quantos livros estou lendo. Mas ando comprando outro a cada semana. Escrevendo? Não, não faço mais isso. 

Sábado fui ao teatro. Vi aquela peça sobre o inferno de 25 anos e fiquei pensando que ainda vale fazer arte. Ainda vale. Estou tentando.

O problema é que estou tão cansada, sempre fiz para além da minha conta, mas parece que nem tenho mais conta. E não consigo chegar ao fim de um livro, nem lendo, nem escrevendo. Que vida! 

Mas vou tentar. Até que funcione, vou tentar. 

Ela escrevia seus livros fantasmas, muito aclimatada às histórias de terror em seu mausoléu de emoções.

Desejava reencontrar seu sonho, mas a luz cegante da árida realidade a impedia de acreditar em seu coração.

Dividida, reescrevia as mesmas palavras vazias, ansiando que cessasse as despedidas. Vai com Deus, esperanças perdidas, vai com Deus.

Nunca quis brigar com o tempo, mas agora que a primeira ruga ameaça sepultar a minha juventude, um instinto parece me guiar à essa batalha perdida.

Quero voltar e reparar meus acertos. Quero ficar e desfrutar meus erros. Quero congelar a minha face em um sorriso de esperanças de que nada mude.

Mas não há o que fazer, o tempo sempre ganha, eu sempre perco minhas esperanças.

Talvez eu desista de escrever uma vez por mês. Hoje quase fui pra valer, mas voltei. Tem tanta coisa para fazer, mas estou cansada. Casada às vezes de viver.

Mas as coisas estão tão bem quando poderiam estar. As saudades não são mais de matar. Lendo pela primeira vez Gabo, consigo compreender os fantasmas comuns por todo continente. A gente precisa criar. 

Então talvez eu ainda tente escrever uma vez por mês. Talvez tente não ir se mais uma vez o ar faltar.