Ainda não aceitei o fato de que sou
adulta. Pago as contas, trabalho de oito às cinco, mas é muito estranho.
Simplesmente não vi quando isso aconteceu. Talvez tenha sido quando me mudei da
casa de meus pais, um ano atrás. Foi tudo tão repentino. Consegui um estágio e
logo estava em uma república.
Era horrível. Garotas estranhas que
enchiam o apartamento de desconhecidos. Foram meses apenas existindo, evitando
criar raízes em um lugar tão desagradável. Mas, as coisas melhoraram. Consegui
um segundo estágio. Caminhava quarenta minutos e corria para não me atrasar.
Trabalhei como se soubesse mesmo o que eu estava fazendo. Era muito bom. Eu
gosto de manter a mente ocupada.
Agora tenho um emprego de verdade.
Terminei a faculdade. Moro com meu melhor amigo. Mas, essa não parece ser razão
para que eu tenha conquistado meu crachá de mulher crescida.
Foi quando instalei meu próprio
chuveiro? Foi quando comprei a minha primeira cama sozinha? Talvez tenha sido
quando descobri os fungos na pia. Tão nojento! Os dedos dos meus pés se
encolhem só por imaginar. De um laranja doentio, causados pelo excesso de
umidade vinda do vazamento. Não tive outra opção além de limpar. Usei minha voz
de negociante para encontrar alguém que entendesse de canos para concertar.
São coisas tão pequenas que me
desafiam agora. Acertar o tempero para que o arroz ao menos pareça comestível.
Entender que o banheiro precisa ser lavado e que as roupas não podem ficar
jogadas em qualquer canto. Lavar a louça não é um problema, o difícil mesmo foi
ficar seis meses sem geladeira, agora sei o valor de um bom copo de água gelada.
Talvez esses incômodos me tornem
mais forte. Já descobri que aguento mais do que imaginava doze meses atrás. A
vida não é perfeita, mas vencendo cada pequena batalha do dia a dia me descubro
uma mulher mais capaz.
A solidão não me quebrou. Os
constrangimentos não me pararam.
E tudo isso é tão banal, tão coisas
pelas quais todo mundo passa, que nem parece algo grande.
Mas é. Crescer é a coisa mais
grande que acontece com a gente. É a coisa mais inconveniente e animadora que
existe.
Inevitável e revelador.
É descobrir quem a gente realmente
é. E eu gosto de quem sou.
Gosto de ser a mulher que me
tornei.